sobre quando até o eterno tem um fim



Demorei pra gostar de viver e tinha uma tristeza que me visitava até mesmo nos dias de alegria. Não sei, era como se todo momento que eu estivesse feliz, algo aparecesse pra me colocar para baixo. Foi então que percebi que precisava me livrar de tudo que me lembrava da existência daquele 2016 tão conturbado. Mas agora que eu finalmente consegui ajeitar as minhas coisas e reservar algo para eu mesma, eu não podia levar comigo nada disso. Porque eu não posso guardar coisas que me lembrem que ele existiu nos meus dias. As pessoas vivem dizendo que eu preciso guardar pequenas lembranças porque um dia eu vou rir de tudo isso. Mas a verdade é que eu não vou rir. Eu não vou chorar. Eu não vou fazer nada mais que me retome ao que vivi nesses últimos anos. Talvez eu tenha demorado tempo demais pra perceber que precisava me desfazer de tudo isso. Talvez eu achasse que guardar algumas lembranças poderiam ser boas para mim. Mas a verdade é que eu não posso me apegar a algo que nunca existiu de fato. Eu não posso me apegar as lembranças de uma pessoa que me tirou todas as esperanças que eu tive na vida. Eu realmente não posso me apegar a uma vida que em momento algum pensou no que eu realmente sentia. E talvez isso seja, de fato, continuar. Por mais demorado que tenha sido, foi no meu tempo. Meu tempo de aprender a gostar de mim, de me respeitar e de ser quem eu quero ser. Ao contrário do que todo mundo pensa, não foi fácil. Não teve um dia sequer que eu não tenha desejado que tudo isso fosse fruto da minha imaginação, ou que eu estava apenas sonhando. Como eu quis nunca ter deixado aquele ser que era tão importante na minha vida, que sabia das minhas dores e respeitava minhas mágoas. Eu juro por tudo que é mais sagrado que eu quis que tudo isso tivesse sido apenas um sonho ruim, e que ele me acordaria pra dizer que "já passou, vida". Mas, depois de passar por esse furacão, eu entendo que foi melhor assim. Eu não poderia ter continuado com isso. E eu precisava me encontrar. E consegui. Consegui tanto que até eu mesmo duvido da minha capacidade. Jamais pensei que conseguiria deixar pra trás tudo o que aprendi sobre o amor. Nunca pensei que pudesse aprender a lidar com o fato de que tudo o que eu sempre acreditei não passava de grandes mentiras. Não vou mentir que ainda é uma luta diária, onde a única pessoa capaz de chegar à linha de chegada é a única que está correndo contra seus medos, receios e pesadelos. Mas eu, finalmente, cheguei até aqui. Fui até o meu limite e voltei. Fui além de todas as minhas inconstâncias pra aprender a conviver com um vazio que esses dez anos deixaram na minha existência. Mas esse vazio pode ser preenchido um dia. O vazio aqui dentro tornou-se na continuação dos meus dias. E, repito: cheguei até aqui. Eu nunca vou entender o que a vida/destino prega nas pessoas, mas eu tenho certeza de que a gente pode ser muito maior que a dor. É possível chegar até o fim dos dias e voltar à vida.

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