daqueles momentos depois do encontro




Eu queria dizer coisas. Sorri um pouco pra mim? Me ajude a descobrir onde dói. Se ajoelhe na minha frente e deite no meu colo, vê se meu peito ainda bate, meça minha pressão, traga um balde pra eu vomitar, tem vick-vaporub? Eu juro, tentei mexer em alguma mecha dos seus cabelos bem cuidados. Não era possível mover o queixo e dizer seu nome seguido de promessas boas, mas estava pensando em você, em como não voltar a te fazer chorar pelos cantos. Eu tentava, no duro. Em algum nível, como você dizia, escolhi essa condição, embora sem saber como reprogramar meu cérebro.

Todos nós temos períodos trôpegos de dormência, de confusão, de enlouquecimento. E a gente costuma vangloriar, invejar os loucos, queremos refletir no espelho como tal, em busca de mera absolvição. Um louco é só um covarde que não suportou sentir a dor. Admito, talvez o processo de enlouquecer seja excitante, chacoalhando sua mente sonolenta com nervura, entorpecendo, fazendo notar ainda ser possível jogar-se com muito ímpeto ao pote. Mas, uma vez louco, sempre. E para o louco, toda loucura é normal.

E eu quero mais, quero me surpreender, surpreender você. Quero voltar pra casa e plantar algum jasmim com seu cheiro. Só existe amor onde tem perfume e movimento – e a cama que não tem tempo de se recompor, e os recados curtos em papel amarelo e autoadesivo.

É o seu cabelo, que de tão macio, faz meus dedos se perderem... E eu faria cafuné brega a noite toda em você, mesmo lá pelas 3 da manhã depois que o seu jogo terminasse e eu pudesse te sentir .

E por cima daqueles lençóis vagabundos, não éramos somente dois corpos sedentos um pelo outro. Estávamos também com nossos corações despidos. Vi o quanto preza pelas pessoas que ama e eu senti uma vontade enorme de fazer parte das coisas que você leva consigo.

-Vê se não faz igual a todos os outros e não se vá sem motivos ou respostas. Promete pelo menos conversar comigo e não me deixar cheio de pontos de interrogação? É que eu já sei como é se despedaçar e não quero passar por isso novamente.

-E o que você fez?

-Quando eu fiquei aos cacos? Eu tive que aprender a me virar. Tinha a sensação de que o mundo era enorme, cheio de coisas desconhecidas, e eu senti medo da solidão, de não ter quem abraçar.

-São tantos os tontos...

-Que sentem medo quando ficam despedaçados e sozinhos?

-Não. Que tem medo de se entregar. Eu não deixaria você cair no chão novamente, por nada nesse mundo.

Não usaram palavras como especial, diferente ou qualquer coisa do tipo, apesar de terem se reconhecido no instante em que se olharam. Era o primeiro encontro, e não que isso fizesse diferença ou fosse alguma barreira para dar nome às suas emoções, mas era cedo demais para tentar nomeá-las; precisavam mover-se até os ponteiros se acertarem.

Não queriam ser um clichê empilhado de promessas. Ao invés de discutirem fidelidade e ciúme -previsível demais- trataram de levantar logo da cama e foram comer lanche natural com suco de maracujá, de madrugada mesmo, durante uma mordida e outra, planejaram mais “sim” ao invés de “não”, mais sorrisos, mais nudez e mais aqui.

Porque você é tudo o que eu preciso nesse exato momento é dormir com a sua cabeça no meu peito, sentindo seu cheiro.

De todas as coisas que você me deu, a melhor delas certamente foi a chance de escolher, escolher você, escolher ficar contigo e atravessar com algum alívio os dias que eu quero simplesmente morrer pra não ser intimado a depor sobre o meu sumiço.

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